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O Jornal

12 nov 2015

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e marcado com as tags Alceu Amoroso Lima, Aliança Liberal, anticomunismo, Arte e cultura, Assis Chateaubriand, Austregésilo de Athayde, Censura e repressão, Coluna Prestes, Colunismo social, Comércio, Conservadorismo, Costumes tradicionais, Crítica política, Diários Associados, Ditadura civil-militar brasileira, Economia, Estado Novo, Getúlio Vargas, Henrique Teixeira Lott, Integralismo, Liberalismo econômico, Literatura, Luís Carlos Prestes, Moda, Revolução Constitucionalista de 1932, Revolução de 1930, Rio de Janeiro, Segunda Guerra Mundial, Tenentismo, União Democrática Nacional

Lançado em 17 de junho de 1919 no Rio de Janeiro (RJ), O Jornal foi um diário matutino de grande circulação. Anteriormente vinculado à política, seu diretor inicial, Renato de Toledo Lopes, era editor da versão vespertina do Jornal do Commercio carioca – por conta de um atrito com a direção geral deste periódico, demitiu-se para fundar a sua própria folha; sem abrir mão de uma provocação, já que “o jornal” era como o Jornal do Commercio era informalmente chamado. Todavia, quando já completava cinco anos de publicação, O Jornal foi comprado por Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello. Sob o comando de “Chatô”, a folha constituiu-se no primeiro órgão da cadeia dos Diários Associados, atrás, em importância, somente da revista O Cruzeiro, que seria lançada em 1928. Foi sob essa segunda gestão que a folha galgou sua grande importância na história da imprensa brasileira, até sua extinção, em 1974.

Segundo Glauco Carneiro, no livro “Brasil, primeiro: história dos Diários Associados”, O Jornal foi viabilizado em 1919 por Pandiá Calógeras, Pires do Rio e Arrojado Lisboa com o objetivo de defender a siderurgia no país. No entanto, o trio se desestimulou com a eleição de Arthur Bernardes, passando o controle da empresa para Toledo Lopes por uma soma irrisória. Para a redação inicial d’O Jornal, que tinha sede na rua Rodrigo Silva, foram então recrutados Alceu Amoroso Lima, Austregésilo de Athayde, Arrojado Lisboa (engenheiro e diretor da Central do Brasil), João Lopes (ex-presidente da Câmara Federal), Bertino de Miranda, Manuel Amoroso Costa, Vladimir Bernardes e Vitorino de Oliveira, sendo apenas este último jornalista profissional. Sob a batuta de Toledo Lopes, esses nomes manteriam a folha marcada pela “independência” e pela “austeridade”, dedicando-se mais a assuntos científicos e literários. Em seu expediente, o periódico anunciava que evitaria “em sua chronica policial a publicação de pequenas noticias repugnantes”. Politicamente moderado em seus primeiro momentos, O Jornal só não foi neutro ao apoiar a Reação Republicana de 1922, um movimento que combatia a candidatura de Arthur Bernardes à sucessão de Epitácio Pessoa na presidência da República, fundamentado por Nilo Peçanha e grupos oligárquicos dissidentes.

Quando passou às mãos de Assis Chateaubriand, em 30 de setembro de 1924 (somente em 2 de outubro seu nome apareceu no expediente), O Jornal foi dotado de ares mais liberais e aguerridos, contra o governo Bernardes. Segundo Nelson Werneck Sodré, em “História da imprensa no Brasil”, a compra da folha teve “o auxílio de Epitácio Pessoa, Alfredo Pujol e Virgílio de Mello Franco, e com o beneplácito de Artur Bernardes” (SODRÉ, 1966, p. 415). De fato, Chateaubriand conseguira empréstimos junto a Alfredo Pujol e Cândico Sotto Mayor – o restante do valor necessário à compra foi arrecadado através da venda de cotas acionárias para a Sociedade Anonyma O Jornal, aglutinando, como cotistas, nomes como Basílio Jafet, Conde Álvares Penteado, Conde Asdrúbal do Nascimento, José Carlos de Macedo Soares, Vicente de Almeida Prado e Roberto Simonsen. O argumento de Chatô era simples: “As classes produtoras não querem um jornal equilibrado que defenda os ‘grandes interesses nacionais?’ Que paguem por isso!” (CARNEIRO, 1999, p. 88). O “beneplácito de Arthur Bernardes” para o empreendimento, citado por Werneck Sodré, provavelmente deveu-se ao fato de o grupo acionário reunir figuras tanto da oposição ao governo quanto da situação, além da influência de Virgílio de Mello Franco junto ao presidente, em favor da compra do jornal. Citando um episódio que ocorreria cerca de um ano depois da compra, Glauco Carneiro, no entanto, não apoia esta tese. Segundo ele,

Por outro lado, a operação desencadeada sob inspiração de Bernardes, para tomar O Jornal de Assis, no verão de 1925, cooptando um diretor do veículo para comprar ações supostamente em nome de Chateaubriand, parece jogar por terra a pretensa colaboração (de Virgílio de Mello Franco na compra do jornal) ou a vista grossa (de Bernardes) mencionada por Carolina Nabuco (na biografia de Virgílio), Sodré e Amoroso Lima. (p. 89)


Independentemente da questão, O Jornal, logo no início da gestão de Chatô, iniciou forte campanha contra o governo de Arthur Bernardes, considerando-o nacionalista de uma forma negativa. O periódico passou a defender o favorecimento do capital estrangeiro, numa visão econômica bem definida; a defender o antinacionalismo, de forma ampla; e a aplaudir o tenentismo, considerado o principal foco de oposição à estrutura política da República Velha – a respeito, O Jornal chegaria a promover uma campanha para arrecadar fundos para a Coluna Prestes, com direito à publicação de uma grande entrevista cedida por Luís Carlos Prestes, rigorosamente crítica ao governo, em 27 de novembro de 1927. Data desse momento uma intensa rixa entre o periódico e o jornal governista O Mundo, de Geraldo Rocha. Pode-se dizer que, à época, Assis Chateaubriand, figura controversa tanto na imprensa quanto na política nacionais, apoiava todos os movimentos contra o governo – cabe ressaltar que o livro de Carneiro sobre os Diários Associados traz uma lista sobre as primeiras grandes campanhas movidas por O Jornal, até 1928.

Recorrendo novamente às palavras de Glauco Carneiro, a equipe responsável pel'O Jornal durante os primeiros momentos da administração de Assis Chateaubriand tinha grande valor:

Epitácio Pessoa aceitou presidir a empresa, secundado por dois diretores, Alfredo Pujol e Rodrigo de Mello Franco de Andrade. Alceu Amoroso Lima foi mantido na crítica literária e o quadro de colaboradores permanentes ganhou outros nomes de expressão, como Fidelino de Figueiredo, Miguel Couto, Pandiá Calógeras, Affonso de Taunay, Carlos de Laet, Ferdinando Laboriau, Paulo Castro Maya, Humberto de Campos, na área nacional, e Rudyard Kipling, Raymond Poincaré e Lloyd George no plano internacional. Chateaubriand convidou Azevedo Amaral para diretor de redação e Sabóia de Medeiros para redator-chefe, sendo este depois sucedido por Austregésilo de Athayde. (p. 91/92)


A primeira inovação introduzida por Chateaubriand n’O Jornal foi a substituição dos longos artigos por reportagens. Em 24 de dezembro de 1924 anunciava-se a publicação da primeira história em quadrinhos nacional, “As aventuras de João e do seu cão ‘Ventania’”. Num segundo momento, sucursais começaram a ser abertas no subúrbio carioca e nos estados de São Paulo e Minas Gerais, geridas, respectivamente, por Plínio Barreto e Milton Campos. Novos colaboradores de peso foram aderindo ao periódico: Afrânio Peixoto, José Maria Whitaker, Virgílio de Mello Franco, João Pessoa, Monteiro Lobato, Herbert Moses, Neto dos Reis, Oswald de Andrade, Humberto de Campos, Lord Birkenhead, Raul Fernandes, Bernard Dernburg, Epitácio Pessoa, João de Sinimbu, Lord Lovat, Guilherme Guinle, Lauro Sodré, entre outros. O apoio de Chateaubriand ao movimento tenentista acabaria rendendo a saída do ex-presidente Epitácio Pessoa do empreendimento, num momento em que O Jornal alcançava sucesso crescente.

Ainda em 1925, Assis Chateaubriand dava mais um passo na construção de seu império: comprou o vespertino Diário da Noite, de São Paulo (SP), fundado em 7 de janeiro de 1925. Ali, colocou Oswaldo Chateaubriand, como diretor. Poucos anos depois, em 1928, Chatô lançou a célebre revista O Cruzeiro, que revolucionou o mercado editorial brasileiro. O Diário de Notícias de Porto Alegre (RS), fundado em 1º de março de 1925, foi incorporado à rede de Chateaubriand em 1929, assim como O Estado de Minas, lançado um ano antes. Em 1929 Chatô ainda lançava o matutino Diário de São Paulo (em 5 de janeiro, em São Paulo) – um contraponto ao Diário da Noite, dirigido por Rubens do Amaral, com grande campanha de fidelização de assinantes: a folha conquistou grande público disponibilizando um mês de distribuição gratuita – e o Diário da Noite do Rio de Janeiro, vespertino em contraponto a O Jornal, projetado em apenas duas semanas, tendo conquistado entre 60 e 80 mil leitores em seu primeiro mês de circulação. Estava oficialmente fundada a rede Diários Associados, a primeira rede de comunicação brasileira, que, em seu auge, contabilizaria 36 jornais, 18 revistas, 36 rádios e 18 emissoras de televisão, dentre as quais, a TV Tupi.

Havia um porquê para a expansão do empreendimento de Chateaubriand, em 1929. No fim do governo de Washington Luís, O Jornal apoiava com entusiasmo a articulação do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de Minas Gerais em torno da Aliança Liberal, abraçando a campanha de Getúlio Vargas à presidência da República – segundo Austregésilo de Athayde, este visitou várias vezes a sede do diário, para conspirar com Chatô contra Washington Luís. Os Diários Associados surgiram em consequência desse apoio à Aliança Liberal: alimentavam-se dela e alimentavam-na. Naturalmente, O Jornal acabou dando grande destaque à chamada Revolta de Princesa, ocorrida em fevereiro de 1930 na Paraíba, contra o presidente estadual João Pessoa, candidato à vice-presidência da República pela mesma chapa que Getúlio; em julho a folha de Chateaubriand culpou formalmente o governo pelo assassinato de João Pessoa. Finalmente, em outubro daquele ano, O Jornal e seus periódicos irmãos deram total apoio à Revolução de 1930.

Contrariando qualquer expectativa, a década de 1930 não foi totalmente favorável a Chateaubriand e aos Associados. Em 1931 foram lançados em Belo Horizonte o Diário da Tarde e a Rádio Mineira, ao passo que foi comprado o antigo Diário de Pernambuco, fundado em 7 de novembro de 1825. No mesmo ano foi fundada a Agência Meridional de Notícias, a primeira do país – foi ainda estabelecido um contrato com a Wide World Photo, de Paris, inaugurando um serviço fotográfico pioneiro no Brasil e garantindo imagens de vários jornais internacionais aos seus periódicos. Mas logo depois que o Governo Provisório foi instalado por Getúlio Vargas, começaram a surgir divergências entre O Jornal, os outros Diários Associados e a nova situação. Chatô pregava contra o estabelecimento de um governo ditatorial no Brasil, pedindo a rápida reconstitucionalização do país. Data deste período um conhecido entrevero do diretor do grupo de comunicação com o poder público, narrado por Werneck Sodré: enquanto esteve à frente da prefeitura de São Paulo, Luís Inácio de Anhaia Melo,

(...) quando pretendia que a Central do Brasil, ferrovia cuja eletrificação estava em planejamento, tivesse usina própria, para suprir-se de energia, (...) suportou terrível campanha, comandada por Assis Chateaubriand, nos Diários Associados, para pagar energia à Light, que financiou aquela campanha, afinal vitoriosa: a Central tornou-se cliente da concessionária estrangeira e a expansão de sua eletrificação estagnou logo adiante. (p. 400)


Ligado a um grupo integrado por Lindolfo Collor, Batista Luzardo e Raul Pilla, Chateaubriand levou O Jornal e seu grupo a apoiar a Revolução Constitucionalista de 1932; o que resultou no confisco da sede e da maquinaria do principal diário da rede, pelas mãos de João Alberto Lins de Barros, e na fuga de Chatô do Rio de Janeiro. Na antiga sede do diário passou a ser impressa A Nação, uma folha governista. Segundo Werneck Sodré, surgiu então sério perigo para os Associados:

Para salvar seu patrimônio jornalístico em Minas Gerais, Chateaubriand colocou na direção dos Diários Associados dali a Afonso Arinos de Mello Franco, passando Dario de Almeida Magalhães para os seus jornais cariocas. O acordo era simples: em troca da salvação, Chateaubriand permitia que os seus jornais mineiros servissem à política adotada por Virgílio de Mello Franco no estado. (p. 435)


Chatô voltou à capital no final de 1933, após a instalação da Assembleia Constituinte em novembro. Em sua ausência, o Diário Mercantil de Juiz de Fora havia sido incorporado aos Associados. Conseguiu então retomar O Jornal e as demais empresas, mas passando a direção geral a seu sogro, Zózimo Barroso do Amaral, figura ligada ao governo; de certa forma, a presença deste à frente dos Associados era um movimento de intenção conciliatória de Chateaubriand em relação a Vargas.

Em meio a essa retomada d'O Jornal, Chateaubriand aproveitou os andamentos da Assembleia Nacional Constituinte, em novembro de 1933: ali, o dono do diário aproximou-se da ala mais conservadora da situação, sobretudo dos irmãos Virgílio e Afonso Arinos de Mello Franco, entre outros. Consequência dessa nova parceria, O Jornal se comprometeu a uma virulenta campanha contra Luís Carlos Prestes e a Aliança Nacional Libertadora, e contra a Intentona Comunista de 1935, mostrando-se, aliás, favorável a certas reivindicações integralistas. No entanto, quando do fim do mandato constitucional de Getúlio Vargas, na abertura da questão sucessória, O Jornal não apoiou o candidato de situação, José Américo de Almeida, abraçando a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira à presidência da República. Naquele momento, os Diários Associados iam de vento em popa: até 1937 foram ainda incorporadas ou fundadas a revista A Cigarra, o Jornal de Alagoas, o Monitor Campista, o Correio do Ceará, O Diário de Santos e as rádios Tupi AM, Tupan e Tupi de São Paulo.

Com o início do Estado Novo, após o golpe de 10 de novembro de 1937, os Associados não foram extintos, mas passaram a sofrer forte controle estatal. O Jornal foi, portanto, obrigado a apoiar Vargas, para não deixar de circular. Com o fim do Estado Novo em 29 de outubro de 1945 e a redemocratização, os jornais de Chateaubriand apoiaram a candidatura da União Democrática Nacional (UDN) à presidência da República, o brigadeiro Eduardo Gomes. Contudo, depois do pleito os periódicos vieram a aplaudir as principais medidas do governo do general Eurico Gaspar Dutra, candidato do Partido Social Democrático (PSD) que saiu vitorioso. Ao longo dos anos 1940 os Diários Associados ainda promoveram campanhas de responsabilidade social empresarial, sobretudo nas áreas da aviação, da saúde, do transporte e da cultura. Em paralelo, diversos outros periódicos e rádios foram comprados ou inaugurados, em variados estados brasileiros.

Com o fim do mandato de Dutra, em 1950 – mesmo ano da fundação da TV Tupi em São Paulo –, O Jornal acabou, pelo desenrolar da engrenagem política, paradoxalmente, dando respaldo à candidatura de Getúlio Vargas, embora discretamente. Segundo um verbete sobre o periódico no “Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930”, de autoria de Carlos Eduardo Leal, onde cita-se depoimento de Austregésilo de Athayde, à época redator-chefe da folha,

(...) teria sido o próprio Chateaubriand o promotor da candidatura Vargas, enviando à estância gaúcha onde este se encontrava o jornalista Samuel Wainer, com a missão de obter uma série de entrevistas sensacionalistas aventando a hipótese de sua volta ao poder. Além disso, (...) O Jornal não se identificava plenamente naquele momento com os pressupostos da UDN. Chateaubriand consideraria os udenistas como “um grupo de idealistas pouco afeito à consideração dos problemas econômicos, sociais e políticos da nação em sua realidade. (p. 2.863)


Apesar disso, com o início do segundo governo getulista, logo as discordâncias do jornal com o poder reapareceram. Chateaubriand batia de frente com Vargas ao defender o ingresso do Brasil na exploração petrolífera com ajuda de capital estrangeiro. Ademais, como se via pelas páginas d'O Jornal, o empresário ainda considerava necessária a ajuda externa para a construção de ferrovias, portos e rodovias. Assim, ao fim do governo Vargas, o diário já se encontrava em franca oposição.

Quando do atentado da rua Tonelero, em 5 de agosto de 1954, onde saiu ferido o oposicionista Carlos Lacerda e morto o major-aviador Rubens Vaz, O Jornal já estava solidamente atrelado à UDN. Com o suicídio de Vargas no dia 24 daquele mês, o periódico deu apoio ao governo do vice-presidente Café Filho, cercado de figuras udenistas. Cerca de um ano depois, em 11 de novembro de 1955, quando o general Henrique Teixeira Lott aplicou um contragolpe que depôs o presidente interino Carlos Luz para garantir a posse de Juscelino Kubitschek, Chatô e O Jornal se mantiveram ao lado da legalidade, afastando-se, portanto, da UDN.

No governo Kubitschek, O Jornal foi tanto contrário quanto partidário da situação. A construção de Brasília, por exemplo, foi encarada pelo jornal como uma importante medida de desenvolvimento para o oeste brasileiro, mas também como um possível causador de processo inflacionário. Foi nesse período em que Assis Chateaubriand foi eleito senador pelo Maranhão, através do PSD, para depois assumir como embaixador brasileiro em Londres.

No fim do mandato de JK, o diário passou a apoiar não o candidato udenista, Jânio Quadros, visto negativamente pelo seu governo em São Paulo, mas a candidatura de Henrique Teixeira Lott, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Com Quadros no poder, O Jornal mostrou grandes preocupações, fazendo oposição à política externa independente adotada e à condecoração de Ernesto “Che” Guevara pelo mandatário. Nesse período, em 21 de setembro de 1959, Chateaubriand criou o Condomínio Acionário dos Diários Associados, modelo de gestão então inédito no Brasil, formado por 22 condôminos responsáveis pela perenidade dos órgãos da rede sem, no entanto, firmarem-se como donos – com isso, Chatô garantia a vida do grupo após a sua morte. Um ano depois seria fundado o Correio Brasiliense, Associado que entrou para a história da imprensa nacional por ser o primeiro jornal de Brasília (DF) – seu lançamento, aliás, abriu uma série de modernizações no parque gráfico dos outros Associados, que paulatinamente migraram do linotipo para a impressão em off-set.

A renúncia de Quadros foi recebida pel’O Jornal como “ato manhoso” que pretendia mandá-lo de volta ao poder via golpe, para o estabelecimento de um governo ditatorial e autoritário. A posse do vice-presidente João Goulart foi bem recebida pelo jornal, apesar do histórico anticomunismo de Chatô. Durante o mandato de Jango, todavia, O Jornal manifestou contrariedade com relação ao sistema parlamentarista, que vigorou no Brasil entre setembro de 1961 e janeiro de 1963. Em paralelo, como era de se esperar, Chateaubriand hostilizava a política de esquerda permitida pelo presidente, opondo-se violentamente às reformas de base propostas pelo Executivo. Com o tempo, os Associados foram desconsiderando o governo Goulart, dando, por fim, total apoio ao golpe militar, em março de 1964.

Apesar de comemorar o início do mandato do marechal Humberto Castelo Branco, no final deste governo, Chatô desentendeu-se com o poder. Segundo Carlos Eduardo Leal, no “Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930”,

O proprietário dos Diários Associados havia promovido a campanha 'Dê ouro para o bem do Brasil', destinada a sanar os problemas financeiros da nação. O montante arrecadado permanecera sob custódia do governo. Em dado momento, Chateaubriand pedira ao presidente que lhe fosse entregue o resultado da campanha, para que pudesse realizar uma 'obra de interesse nacional'. Castelo Branco recusara o pedido, passando a sofrer oposição de O Jornal. (p. 2.864)


Na verdade, no início da década de 1960 uma profunda crise financeira e administrativa já começava a se instalar sobre os Associados. Um acidente vascular cerebral atingira Chatô logo no primeiro ano da década, privando-o de qualquer função administrativa em sua rede de comunicação. Em paralelo, O Cruzeiro, carro-chefe da cadeia, que então dava mais prejuízos do que lucro, começava a dar sinais de fraqueza ao não conseguir renovar seu formato editorial, perdendo leitores muito em face do advento da televisão. Enquanto a rede se via obrigada a vender propriedades e empresas, como se não bastasse, a concorrência tomava cada vez mais o espaço de Chateaubriand e dos Associados, tanto no mercado jornalístico como em relação à proximidade com o poder - foi nesse período, afinal, em que as Organizações Globo entraram em expansão. De qualquer forma, no restante da ditadura militar, enquanto durou, e mesmo após a morte de Chatô em 1968, O Jornal apoiou o governo. Ou seja, esteve do lado de Artur da Costa e Silva e de Emílio Garrastazu Médici, mas, em péssimas condições financeiras, causadas por má administração, o diário acabou fechando as portas em abril de 1974. Os Diários Associados, no entanto, continuaram sua trajetória.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 15, ano 1, de 1º de julho de 1919, ao nº 7.226, ano 24, de 31 de dezembro de 1942.

- CARNEIRO, Glauco. Brasil, primeiro: história dos Diários Associados. Brasília: Fundação Assis Chateaubriand, 1999.

- LEAL, Carlos Eduardo. O Jornal. In: Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, vol. 3. Coord. ABREU, Alzira Alves de... [et al.]. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001.

- Memória Diários Associados. Disponível em: http://www.diariosassociados.com.br/linhadotempo/decada20.html. Acesso em 14 jan. 2014.

- MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

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