A coleção Brasiliana da Biblioteca Nacional é um tesouro amealhado; um conjunto de centenas e múltiplas coleções no acervo da Fundação Biblioteca Nacional brasileira.
A consideração de uma coleção brasiliana pressupõe o conceito fundamental de Rubens Borba de Moraes, consagrado na Instrução Normativa nº 01, 11 de junho de 2007, do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que “dispõe sobre o Cadastro Especial dos Negociantes de Antiguidades, de Obras de Arte de Qualquer Natureza, de Manuscritos e Livros Antigos ou Raros, Art. 3º, inciso IX, alínea a:
Na Biblioteca Nacional, à luz de sua missão estatutária, de salvaguarda da memória bibliográfica nacional, ao conceito de “brasiliana” é acrescido o de “brasiliense”, também formalizado por Borba Moraes e consagrado na mesma Instrução Normativa do IPHAN, Art. 3º, inciso IX, alínea b:
Os conceitos do respeitado bibliófilo e bibliotecário estão ratificados na literatura. No entanto, colecionadores especializados tendem a entender como Brasiliana tudo o que está descrito na alínea a, e quase tudo o que está previsto na alínea b. É comum encontrar identificadas como brasilianas coleções de tipologias documentais múltiplas (livros, jornais, volantes, retratos, mapas, gravuras, partituras etc.), que englobam desde itens sobre o Brasil, produzidos desde o século XVI, a itens publicados no Brasil ao longo do século XIX. Para tanto, esses colecionadores buscam complementar os itens arrolados na monumental Bibliographia brasiliana (1983) de Rubens Borba de Moraes com o necessário Diccionario bibliographico brazileiro (1883-1902), de Augusto Victorino Alves do Sacramento Blake.
Qualquer que seja o critério que a Biblioteca Nacional releve, para identificar sua Brasiliana – o de Rubens Borba de Moraes ou o consagrado pela Bibliofilia especializada – a perspectiva de uma coleção de significativa grandeza, tanto em número quanto em qualidade, se evidencia.
Um bom exemplo é a coleção de Julio Benedicto Ottoni, incorporada ao acervo da Biblioteca Nacional em 1911, denominada nos registros de memória da Biblioteca como “coleção brasiliense”. Essa coleção, “organisada pelo Dr. José Carlos Rodrigues e offertada pelo Dr. Julio Benedicto Ottoni, [foi um] presente verdadeiramente regio, [que deu ao colecionador] o direito de ser considerado como um dos maiores bemfeitores deste estabelecimento. [...] Augmenta o valor da collecção a circumstancia de se achar cuidadosamente catalogada pelo proprio Dr. J. C. Rodrigues que a organisou. A coleção, também chamada "Brasiliana", é uma das mais importantes já incorporadas à BN. Consta em 12.187 obras em 15.161 vol., ca. 1000 cartas geográficas, além de mss. e estampas” (Calazans, 1937, p. 11 – Cf. Relatório BN 1912). Entre as muitas riquezas que inclui, destaca-se o exemplar de Der Newen Zeytun aus Presillg Landt, “folha volante de que só são conhecidos três exemplares mais, que é o impresso mais antigo sobre o Rio da Prata e prova [...] terem sido os Portuguezes e não os Hespanhoes os primeiros que navegaram no golfo daquelle estuario e foram até mais ao sul” (Relatório BN 1911). Pertence à coleção, ainda, um magnífico Barléus – obra preciosa por registrar a história do período holandês no Brasil a partir de documentos originais, cedidos pelo próprio Maurício de Nassau.
Se apenas a brasiliana-brasiliense de Rodrigues-Ottoni conta mais de doze mil obras, há que se imaginar a monumentalidade de toda a brasiliana-brasiliense da Biblioteca Nacional brasileira. Nesse contexto, vale ponderar sobre os inúmeros itens avulsos, incorporados ao acervo desde os tempos memoráveis de Real Bibliotheca. Um exemplo encantador é o manuscrito que delineia um mapa de tesouro, conhecido como “Documento 512”, um dos itens mais “filmados” e “fotografados” por pesquisadores de todo o mundo ; outro, fascinante, é a Histoire de l’Amérique de Léry (1585), que apresenta o primeiro registro de música
brasileira – o viajante ouviu o canto dos indígenas, recolheu e transcreveu musicalmente trechos que, quase quatro séculos depois, foram interpretados e divulgados por Villa-Lobos (Figura).
São tantos os tesouros que é quase verdade afirmar que a Brasiliana na Biblioteca Nacional é a própria Biblioteca Nacional.