Klumb: Estrada União e Indústria.
Klumb: Petrópolis.
Insley Pacheco: Quinta da Boa Vista, São Cristovão e arredores.
Insley Pacheco: Princesa Isabel.
Stahl: Construção da ponte Santa Isabel, em Pernambuco.
Henschel: Vista do Jardim Botânico e Morro do Corcovado.
Henschel: Aleia Frei Leandro.
Marc Ferrez: entrada do Rio.
Marc Ferrez: Aqueduto no Rio do Ouro
Noack: vista do cemitério de Staglieno.
Noack: monumento funerário de Staglieno.
Antonio Beato: monumento de Amenófis III.
Antonio Beato: templo egípcio de Abu Simbel.
Princesa da Casa de Nápoles, irmã do Rei das Duas Sicílias, escolhida por razões diplomáticas para ser a terceira imperatriz do Brasil, mulher de D. Pedro II, Teresa Cristina Maria chega ao Rio de Janeiro no dia 3 de setembro de 1843, depois de um casamento por procuração no Reino de Nápoles. Assim passa imediatamente a exercer seu papel de esposa, mãe e imperatriz.
Dividida entre a dedicação ao marido e os filhos e seus compromissos como mulher do Imperador, sempre se portou conforme o papel que desempenhava: Educada e discreta, silenciosa e paciente, sábia e bondosa. Em todas as oportunidades figurava ao lado do Imperador: nas solenidades magnas, nas funções religiosas, nos sofrimentos da guerra, nas visitas a rincões distantes, nas vibrações patrióticas, em todos os bons e maus momentos do império, ela se esteve presente.
Cumpriu sua missão com tamanho desvelo, se integrando a Pátria que havia adotado, que ficou no coração e na memória do povo brasileiro como "a desvelada mãe da infância desvalida, a amparadora dos pobres e a terna mãe dos brasileiros". Com a proclamação da república, exilada na Europa junto com D. Pedro II, Teresa Cristina Maria morre em 28 de dezembro de 1889.
Após a morte da sua esposa, D. Pedro II pretendendo garantir para ela um lugar na memória do povo - da maneira mais delicada, e ao mesmo tempo a mais segura - doou aos brasileiros a sua monumental biblioteca com uma única condição: fosse a mesma incorporada ao acervo das instituições escolhidas por ele como Collecção D. Thereza Christina Maria. Assim foi feito, e dessa forma a Biblioteca Nacional tinha incorporado ao seu acervo um dos mais impressionantes conjuntos documentais desde a sua fundação.
A Collecção D. Thereza Christina Maria consistia de uma vasta gama de documentos, das mais diferentes tipologias. Segundo Lygia Cunha, no "Resumo historico", publicado no vol. 19 dos Anais da Biblioteca Nacional, lê- se: "approximadamente pode-se calcular que a Bibliotheca Nacional recolheu 48.236 volumes encadernados, e innumeras brochuras, sem levar em linha de conta folhetos avulsos, fascículos de variadíssimas revistas litterarias e scientificas, estampas em collecções e avulsas, musicas esparsas e em collecção, mais de mil mappas geographicos impressos e manuscriptos e 13 quadros emoldurados de mappas de paizes da Europa, em relevo". Registra ainda: "Desde que a Bibliotheca existe é esta a dadiva mais avultada e farta que recebe, encerrando importantíssimas obras sobre todos os ramos do saber humano, a que dão um cunho especial, que lhes augmenta o apreço, as dedicatórias autographas de auctores, em elevadíssimo numero".
Nesse legado havia uma enorme quantidade de fotografias, avulsas e em álbuns; referentes ao Brasil e a países estrangeiros; registrando viagens oficiais do staff do império do Brasil, fatos, paisagens, acontecimentos históricos; fotografias de muitas partes do Brasil; recebidas por doação durante as viagens que empreendeu ou ainda as que adquiria dos fotógrafos itinerantes. Muito da constituição desse acervo fotográfico se deve ao espírito inquieto e indagativo do Imperador, que buscava constantemente se enriquecer e se atualizar, estando em dia com os acontecimentos e descobertas que então aconteciam na Europa. Aos quatorze anos de idade, D. Pedro, adquire um daguerreótipo pela quantia de 250 mil réis, e desde então, o jovem futuro monarca se torna um incentivador da fotografia, tomando lições com August Morand, um americano que em 1842 passa seis meses no Rio.
A partir de 1844 torna-se uma constante na vida social do Rio e das províncias, para onde se espalhou, a moda do retrato — grande, emoldurado, com dedicatória ou ainda as cartes-de visite, deixadas por ocasião de compromissos sociais, testemunhando a presença de pessoas.
No Brasil, fotógrafos estrangeiros já chegavam com experiência profissional, se instalando com atelier fotográfico, obtendo alguns benesses imperiais tais como o título de Fotógrafo da Casa Imperial.
Alguns dos mais conhecidos e importantes fotógrafos que constituíram a coleção:
Revert Henry Klumb — chegado em 1855, documenta o Rio de Janeiro em vistas e interiores de residências, reproduções estereoscópicas. Klumb radicou-se em Petrópolis durante cerca de vinte anos, sendo professor da Princesa Isabel.
Insley Pacheco — um dos mais conceituados e com valiosa bagagem fotográfica. Oriundo do Ceará, onde aprendera a profissão com o fotógrafo americano Walters, se instala no Rio de Janeiro em 1854, ostentando o título de Fotógrafo da Casa Imperial.
Stahl — radicado primeiramente no Recife, onde documentou a construção da Estrada de Ferro para o Cabo e a visita do Imperador em 1859. Associado a Wahnschaffe, instala-se no Rio de Janeiro no ano de 1863.
José Ferreira Guimarães — possuía no Rio de Janeiro as mais fabulosas instalações para a época, salas decoradas, para atendimento do público e trabalhos de fotografia. Era um dos favoritos da alta sociedade do Império.
Henschel — vindo da Alemanha, Hamburgo, passa por Recife em 1867, abre filial em Salvador em 1872 e no Rio de Janeiro se instala em 1877.
Marc Ferrez — no ano de 1865, abre sua casa fotográfica; é um dos mais fecundos no ramo, tendo deixado vastíssima obra documentária — viaja por todo o Brasil e registra desde as construções de estradas de ferro às pesquisas da Comissão Geológica, o eclipse de Vénus; evoluindo parípassu com as técnicas fotográficas, vem a ser o primeiro a instalar no Rio de Janeiro um cinematógrafo, no ano de 1907.
O conjunto doado por D. Pedro II, em 1891, abarca enorme diversidade de assuntos, que, para maior facilidade de informação, na época da organização do acervo, foram grupados em:
a) álbuns e fotografias avulsas das viagens de Suas Majestades ao exterior em 1871, 1876, 1888. O périplo imperial abrangeu nas três viagens França, Espanha, Itália, Inglaterra, Escócia, Alemanha, Áustria, Hungria, Turquia, Palestina, Egito; estão representados no conjunto vistas de cidades, sítios arqueológicos e ruínas — fotografias adquiridas aos fotógrafos locais, sendo que em algumas a comitiva do Imperador é fotografada. No ano de 1876, por ocasião dos festejos do primeiro centenário da Independência dos Estados Unidos da América do Norte, vai o Imperador com a Imperatriz e comitiva participar dos festejos — a viagem se estendeu por várias cidades: Nova Iorque, Filadélfia, Baltimore, Saint Louis, New Orleans, Washington, Boston, Niagara Falis, continuando pelo Canadá por São Lourenço e Montreal, de onde partem para a Europa. De todas guarda a Seção de Iconografia grande quantidade de fotografias.
b) álbuns e fotografias avulsas do Brasil — não só as adquiridas pelo Imperador, como também as graciosamente oferecidas por ocasião das viagens que empreendeu aos vários rincões do Império: 1869 — Bahia e Pernambuco, estendendo até a cachoeira de Paulo Afonso; 1876 — Friburgo, por ocasião do restabelecimento de D. Teresa Cristina Maria; 1867 — vistas de Belém; 1881 — as oferecidas pelo fotógrafo Riedel, da viagem a Minas de Suas Altezas Imperiais o Duque de Saxe e seu irmão; 1866 — vistas da Colônia D. Francisca, em Santa Catarina.
c) álbuns e fotografias avulsas de acontecimentos históricos e/ou marcantes no desenvolvimento e progresso do país: funcionários da Great Western, 879; vistas da Estrada de Ferro Bahia—São Francisco Railway e da cidade do Salvador, 1859, por Mullock; fotos do Pavilhão do Império Brasileiro na Exposição Internacional de Filadélfia, em 1876; inúmeras fotos da Guerra do Paraguai; álbuns de recordações da Exposição Nacional nos anos de 1866 e 1872; festejos públicos por ocasião do feliz regresso de SS. MM. em 31.3.1872; vistas da Estrada de Ferro Paraná; abertura da Estrada de Ferro D. Pedro II, nas fotos de Marc Ferrez, numa delas se vê o Imperador e a comitiva à boca do Túnel da Mantiqueira, que acabara de ser aberto.
d) álbuns, fotos avulsas ou em grupo de personalidades estrangeiras: membros do Congresso Geodésico, realizado em 30.10.1887; foto de uma companhia teatral com seu empresário e artistas chineses; artistas de teatro em Copenhague; o sábio Agassiz de frente e de perfil em 1865; dois álbuns com mais de cento e vinte retratos cada um, de personalidades européias; álbum histórico comemorativo do milenário russo, com retratos da Casa Imperial russa, 53 fotos; dos conjuntos destaca-se um photographie souvenir — doado ao Imperador em 1876, com 82 retratos e 24 vistas dos Estados Unidos, numa encadernação de luxo ofertada por E. e H. T. Anthony, de Nova Iorque.
e) fotografias de caráter científico, antropológico, astronômico, arqueológico, biológico, etc., tais como: vistas do Laboratoire d'Etudes Physiques de la Tour Saint Jacques; horloge astronomique de Strasbourg; pesquisas arqueológicas em Port Blanc, 1883; monumentos, ruínas e escavações no México em 1867; passagem de Vénus a 6 de dezembro de 1882, fotos fomadas pela Comissão Astronômica do Brasil, na ilha de Saint-Thomas, nas Antilhas; 10 fotos em álbum luxuosamente encadernado; vistas e tipos da China, fotografados do natural em 1874-75; crânios encontrados por Lund em Lagoa Santa e restos de animais antediluvianos; aspectos do Instituto de Surdos-Mudos de Paris; tipos da população de Feira de Santana, Bahia; índios selvagens tapuias, botocudos, cainguás, de várias regiões do Brasil; vinte fotografias, montadas em álbum, do jardim de plantas de Viena; figuras geométricas em cristal de rocha.
f) curiosidades, peças de museus e exposições, monumentos: cadeiras em jacarandá esculpidas figurando na Exposição Nacional; escultura alusiva aos soldados franceses mortos em Mars lê Tour, durante a guerra franco- prussiana de 1870; álbum do famoso cemitério de Pisa, ainda hoje visitado, pela excelência dos trabalhos esculpidos em mármore; ruínas de Paris após a guerra franco-prussiana; peças de artilharia de guerra, construídas pela Krupsche Gusstahl, de Essen; idem, construídas pela Société anonyme des Anciens Etablissements de Cail, França; forjas e aciarias da Cie. des Hautes Fourneaux de la Marine et Chemins de Fers; locomotivas inglesas de Baldwin M. W. Co.; ponte sobre o rio Bagé, construída pela Companhia de Engenharia Militar Brasileira; Esposizione Emiliana de 1888; Paris, Salon, 1879, Exposition Internationale de Beaux Arts; projeto de monumento a D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil; os pavilhões da Exposição Universal de 1883; coleção de medalhas do Museu da Polônia; lança oferecida ao General Osório.
g) por último deixamos para mencionar os retratos da Família Imperial em grupos ou avulsos nos quais toda uma sucessão de gerações é registrada — D. Pedro e D. Teresa, jovem ainda, depois com as filhas adolescentes, mais tarde com os genros e por fim com os netos; retratos de parentes da nobreza européia.
Dentro desse precioso legado em fotografias, em meados da década de 1990 foi recuperado um conjunto de fotos avulsas que, por obra do acaso, foram preservadas da deterioração natural, decorrente da ação da luz. Guardadas desde a incorporação da Collecção Thereza Christina Maria ao acervo em caixas de folhas de flandres, essas fotografias que não foram montadas em álbuns se enrolaram com o tempo em torno da emulsão, como é natural em qualquer fotografia que fique solta num espaço.
As enroladinhas, como ficaram carinhosamente conhecidas, preservaram suas características de cor e tonalidade, parecendo que tinham acabado de ser reveladas. Na verdade foi isso mesmo que ocorreu, depois de quase 100 anos protegidas nas sobras, e apos formidável trabalho de restauração, essa rica coleção de quase 600 fotografias se revelou para pesquisadores e público em geral trazendo mais luz sobre uma parte de nossa história.
Após sua restauração a Biblioteca Nacional deu início ao processo de digitalização desse acervo, completando assim a cadeia de preservação na medida que o acesso ao conjunto passa a ser feito sem necessidade de manuseio dos originais. As enroladinhas integram agora a Biblioteca Nacional Digital, tomando lugar junto aos álbuns da mesma coleção que haviam sido digitalizados em 2007, em parceria com a Getty Foundation.
O reconhecimento internacional do valor cultural desta coleção foi obtido através de sua inscrição no Registro Internacional da Memória do Mundo da UNESCO, em 2003. Assim, esta coleção tornou-se o primeiro conjunto documental brasileiro a integrar este programa da UNESCO.
No ano em que a Biblioteca Nacional comemora seus 200 anos, ela devolve ao público esse precioso legado deixado em testamento ao povo brasileiro por D. Pedro II.