Carta sobre a aquisição de quadros pertencentes ao Senado.
Carta em que a imperatriz doa dois retratos do imperador à Biblioteca Nacional.
Carta de Vítor Meirelles desculpando-se por não contribuir com a exposição Camoneana.
Carta informando o dia em que o imperador irá à Biblioteca Nacional.
Carta propondo troca de obras entre as Bibliotecas Nacionais do Brasil e de Munique.
Carta remetendo publicações do Imperial Observatório para o acervo da Biblioteca Nacional.
Carta cobrando pelos cincos volumes da Biblioteca del Rio de la Plata vendidos à Biblioteca Nacional.
Carta enviando exemplar de Camões traduzido em castelhano por Juan de la Pezuela.
Carta remetendo relação de documentos da viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira.
Carta sobre a publicação de um catálogo de incunábulos da Biblioteca Nacional.
Carta enviando documentos para o acervo da Biblioteca Nacional.
Longevidade, erudição e operosidade. Talvez essas sejam as melhores palavras para definir um homem como Benjamin Franklin Ramiz Galvão. Pelo menos eram essas que muitos de seus contemporâneos utilizavam quando se referiam a ele. Nascido em Rio Pardo, Rio Grande do Sul, em 1846, Ramiz Galvão, como era mais conhecido, dedicou boa parte dos seus 92 anos de vida às letras, tendo atuado em algumas das mais importantes instituições de seu tempo.
A primeira delas foi o Colégio Pedro II, onde fez toda a sua instrução primária. Seguiu seus estudos na Faculdade de Medicina e, em 1869, retornou à sua antiga escola, desta vez, como professor de retórica. No ano seguinte, Ramiz Galvão foi chamado para assumir o cargo de diretor da principal biblioteca do país, a Biblioteca Nacional.
Ramiz Galvão assumiu a direção da biblioteca após a morte de seu antecessor, o religioso Frei Camilo de Monserrate, que lhe deixou uma série de problemas a serem resolvidos. Naquela época, a biblioteca não possuía o prédio próprio e imponente que tem atualmente. O edifício que a abrigava situava-se no Largo da Lapa, lugar que, para Galvão, não era o mais adequado. Distante do centro da cidade, a biblioteca acabava por ficar afastada das instituições de ensino, das livrarias e, consequentemente, de seu público. As más condições do prédio e o horário limitado de funcionamento (das 9 às 14h) também contribuíam para o pouco movimento nos salões da biblioteca.
Como não havia verbas para a construção de um novo prédio, a solução encontrada era reformar o que se tinha. Com recursos vindos do Ministério do Império, Galvão reformou parte do edifício, introduziu a iluminação a gás na Biblioteca Nacional e, em 1872, conseguiu autorização para ampliar o horário de atendimento ao público (possibilitando a abertura no período noturno das 16 às 21h).
As maiores novidades, no entanto, ainda estavam por vir. Elas chegaram após a viagem de Ramiz Galvão à Europa, quando pode conhecer o funcionamento de algumas das principais bibliotecas de sua época. Inspirado por aquilo que viu no “Velho Mundo”, Ramiz Galvão iniciou um conjunto de reformas, incluindo a elaboração de novos estatutos, que visavam melhorar e modernizar a Biblioteca Nacional. A partir de então, a BN passou a ser dividida em três seções (impressos e cartas geográficas, manuscritos e estampa) e foi aberto o primeiro concurso para funcionário da instituição, no qual foi aprovado o jovem Capistrano de Abreu.
Apesar de todas as mudanças promovidas, este período da história da BN foi marcado especialmente pela maior preocupação (assumida pela biblioteca) com a construção de um passado para a nação brasileira. Neste momento, é possível perceber todo um esforço por parte do bibliotecário no sentido de buscar documentos sobre a história do Brasil e ampliar o acervo da instituição. Neste sentido, a viagem à Europa foi de grande valia, pois não só serviu para a aquisição de livros e manuscritos, mas também para que Galvão mantivesse contato com diversos livreiros e bibliotecários estrangeiros, com quem trocava cartas, informações sobre leilões, além de materiais bibliográficos.
Mas não bastava apenas adquirir documentos acerca de nossa história. Era preciso também publicar este acervo, tornando-o disponível ao público letrado. Para isso, foram criados, em 1876, os Anais da Biblioteca Nacional, periódico que tinha como objetivo tornar acessível as riquezas da biblioteca aos estudiosos, além de divulgar documentos autênticos da história brasileira.
A publicação dos Anais da Biblioteca Nacional e a reorganização interna da instituição pareciam indicar que a BN passava por um tempo de mudança. No entanto, foi no final de sua gestão que Ramiz Galvão levou a cabo aquela que seria a realização mais marcante da sua administração: a Exposição de História e Geografia do Brasil.
Inaugurada em dois de dezembro de 1881, exatamente no dia do aniversário do imperador D. Pedro II, a exposição buscou reunir uma grande massa de publicações sobre a história do país, tendo como objetivos, em primeiro lugar, recolher e localizar documentos que pudessem ajudar a compreender a história brasileira; em segundo lugar, favorecer a organização de um catálogo em que diversos tipos de documentos de vários momentos da história do país poderiam ser localizados, ordenados e divulgados aos estudiosos.
A exposição, que durou cerca de um mês, foi bem sucedida e rendeu muitos elogios ao esforço de todos os funcionários da biblioteca, especialmente a Ramiz Galvão. Consumido pelo trabalho, ele retirou-se de licença para cuidar da saúde após o evento, deixando Saldanha da Gama em seu lugar. No entanto, seu descanso não durou muito tempo, pois, em maio de 1882, ele teve de abandonar definitivamente seu cargo de bibliotecário para se dedicar à educação dos netos de D. Pedro II.
Embora bastante marcada pela passagem pela Biblioteca Nacional, a trajetória de Galvão não se resumiu a esta instituição. Ele ainda fez parte do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Brasileira de Letras, e, como vimos, do Colégio Pedro II, três das grandes instituições de sua época. Ao longo de seus 92 anos, atuou ainda como professor da Escola de Medicina, diretor do Almanaque Garnier, Inspetor Geral da Instrução Pública e até como dirigente de um asilo para crianças pobres. No entanto, os doze anos em que esteve à frente da BN marcaram bastante não apenas a sua trajetória como um homem de letras (afinal as mudanças que implementou renderam a ele certo reconhecimento entre seus pares, especialmente por ter revigorado a principal biblioteca do país), mas fomentou em Ramiz Galvão uma grande estima pela instituição que dirigiu. Mesmo distante da BN, ele continuou acompanhando de perto os caminhos trilhados pelos seus sucessores e constantemente se referia àquele espaço como o lugar em que passou os melhores anos de sua vida.