É antiga a predicação do autoconhecimento por meio da viagem para dentro de si mesmo, da rigorosa introspecção. A lição de Nietzsche, entretanto, é a de que, em vez desse penoso esforço, vale deixar passarem sob os olhos os objetos amados de toda uma existência, esses que se superam ou se transfiguram, pois, diz ele, “tua essência verdadeira não está oculta no fundo de ti, mas colocada infinitamente acima de ti, ou pelo menos daquilo que tomas comumente como sendo teu eu” .
Em seu depósito (teke), o livro (biblion) perfaz o espaço concreto ou virtual (biblioteca) onde se alinham objetos essenciais para o itinerário original do conhecimento, que é a aventura de sempre sermos “amáveis estrangeiros” no universo do conhecimento. Aliás, um cosmos, que se vislumbra até mesmo na evolução de seus nomes: “minerais” era como se chamavam as primeiras bibliotecas, por seus acervos constituídos de tabletes de argila; depois, as “vegetais” e “animais” , por rolos de papiro e pergaminhos. Só muito depois vieram as bibliotecas de papel, as moradas do livro.
É um itinerário dessa natureza que aqui, agora, se oferece ao leitor.