Solicitações de matrícula no curso de biblioteconomia.
Compra de mobiliário para o prédio da Avenida Central.
Trabalho de cópia da coleção De Angelis.
Carta sobre a mudança do prédio da Biblioteca Nacional.
Proposta de publicação do “manual do bibliotecário”.
Proposta de venda de acervo cartográfico.
Ofício sobre a posse da coleção Wallenstein.
Manuel Cícero Peregrino da Silva nasceu no Recife em 1866, mesma cidade onde se graduou em Direito no ano de 1885. Também na faculdade de direito do Recife esteve a frente da biblioteca por dez anos onde conduziu sua reforma. No dia 13 de julho de 1900 tomou posse como diretor da Biblioteca Nacional, onde permaneceu até 1924.
Escritor, advogado e bibliógrafo, Cícero Peregrino passou à História como o diretor que viabilizou a construção do atual prédio da Biblioteca. Essa era uma necessidade premente da instituição, alardeada sempre pelos jornais da época, que apontavam a precariedade do antigo prédio do Passeio, onde parte do acervo encontrava-se espalhado pelo chão, entre outros problemas. Fazia-se necessário um prédio pensado especialmente para a acomodação do acervo. Mais que isso, que traduzisse a carga simbólica que a instituição representava para a cultura, as letras da capital federal e a própria identificação que a Biblioteca provia para a nação e o Estado brasileiro, além de um espaço de sociabilidade para os que a freqüentavam.
Para promover o debate intelectual, Cícero Peregrino promoveria Conferências Literárias, ainda no antigo prédio da Biblioteca. Essas conferências tinham grande destaque e promoviam grande debate na imprensa, que enaltecia a iniciativa. Coube a revista Rua do Ouvidor, publicá-las na íntegra, além de analisar as atuações dos conferencistas – entre eles José Veríssimo, Coelho Neto, Juliano Moreira, João Ribeiro, Afrânio Peixoto, Artur Azevedo e Carlos de Laet – do público presente e de seu comportamento. Nessa mesma época, um acordo com os Correios possibilitou a intensificação do Serviço de Intercâmbio Bibliográfico e do cumprimento da lei do Depósito Legal, incentivada por ele mesmo e que resultou no decreto de 20 de dezembro de 1907. Instalou na instituição em 1902 uma oficina de encadernação e uma tipografia, com a qual a Biblioteca passou a imprimir suas obras. Instituiu a criação de um Catálogo Coletivo das bibliotecas da cidade, a catalogação cooperativa e incentivou a introdução da Classificação Decimal Universal (CDU), padrão até hoje em todas as bibliotecas do mundo. Em 1904 aprovou o projeto do ex-Libris e do emblema da Casa, criados pelo artista Eliseu Visconti.
Em 1911 aprovou-se o novo Regulamento da Biblioteca, criando um Conselho Consultivo que discutia os problemas da Casa, apresentava sugestões e planejava eventos culturais. Percebendo a carência de formação do quadro de funcionários, no mesmo ano criou, dentro da própria Biblioteca Nacional, um curso de Biblioteconomia. Esse curso foi o primeiro da América Latina e o terceiro no mundo e seguia o modelo da Ecole de Chartres, (França). Tinha as seguintes matérias básicas: Bibliografia (que abrangia História do Livro, Administração de Bibliotecas e Catalogação); Paleografia e Diplomática; Iconografia e Numismática. O ensino era teórico e prático. A parte prática era feita na própria Biblioteca, utilizando os seus serviços, considerados padrão.
Manuel Cícero Peregrino acumulou outras funções ao longo de seu tempo na Biblioteca Nacional e ocupou outras posições importantes após sair dela. Foi prefeito interino do Distrito Federal (1918-1919), reitor da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (1926-1930) e presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1938-1939). Sua morte ocorreu no Rio de Janeiro em 1956.