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Conde da Barca.
Vue D'Olinda.
Végétation du Brésil.
Plan de la Baie de Rio Janeiro.
Voyage pittoresque et historique au Brésil. Tome premier.
Voyage pittoresque et historique au Brésil. Tome deuxième.
A Missão Artística francesa de 1816
Quando a corte portuguesa se instala no Rio de Janeiro, em 1808, a expressão artística brasileira, essencialmente voltada para o domínio religioso, ainda vive sob o regime de associações de artesãos. Uma vez restaurada a estabilidade política na Europa, em 1815, o Conde da Barca, preocupado em atrair talentos estrangeiros para a antiga colônia então elevada à condição de reino ao mesmo nível de Portugal e dos Algarves, em nome do príncipe regente D. João VI, recorre ao seu representante em Paris, o Marquês de Marialva. O sábio Alexander von Humboldt, à época coberto dos louros de sua expedição sul-americana, é consultado e sugere o nome de Joachim Lebreton, secretário perpétuo demitido havia pouco da Académie des Beaux-Arts de l’Institut de France por causa de um discurso bastante polêmico onde ele argumentava contra a restituição das obras “confiscadas” durante as campanhas napoleônicas.
Sem ser artista, este ex-padre se revelara um bom servidor da Revolução e, mais tarde, do Império. Ele congrega um núcleo de criadores, a maioria deles caídos em desgraça desde a Restauração: o pintor acadêmico Nicolas-Antoine Taunay, seu irmão escultor, Auguste, o pintor Jean-Baptiste Debret, o arquiteto Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny, o gravurista Charles Simon Pradier, acompanhados de engenheiros, técnicos e artesãos, entre os quais Pierre Dillon, o braço direito escolhido por Lebreton para a futura Escola de Belas Artes, François Ovide (artes mecânicas), Charles Levavasseur, os assistentes Louis Meunié e François Bonrepos… Tendo viajado por conta própria (ao que parece, com a ajuda do comerciante carioca Fernando Carneiro Leão), o grupo desembarca no Rio em 26 de março de 1816. No dia 12 de agosto são assinados os contratos oficiais das pensões e é promulgada a criação da Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, a qual vão se juntar alguns recém-chegados como o músico Sigismund Neukomm, e os escultores Marc e Zéphyrin Ferrez.
Esbarrando em uma série de obstáculos, a existência da escola permanece apenas virtual. À lentidão administrativa e política, junta-se a má vontade do cônsul francês, o coronel Maler, bastante hostil aos antigos bonapartistas, e as divergências internas entre os próprios “missionários”, principalmente entre Lebreton, apoiado por Jean-Baptiste Debret, e Nicolas Taunay. Além disso, as mortes do francófilo Conde da Barca, em 22 de junho de 1817, e, em 9 de junho de 1819, de Joachim Lebreton, vão deixar campo livre às intrigas da parte dos portugueses, de maneira que o decreto de 25 de novembro de 1820 põe à frente da Real Academia de Desenho, Pintura e Arquitetura Civil — criada um mês antes no lugar da Escola de 1816 (nunca instalada) — Henrique José da Silva, secundado pelo padre Luiz Rafael Soyé. Contrariado, Nicolas Antoine Taunay volta para a França no início de 1821, onde ele espera recuperar o prestígio perdido em 1815; é acompanhado de sua mulher e do filho Hippolyte, deixando no Rio mais quatro filhos. Contudo, será preciso esperar até 1826 para que a Academia seja instalada em sua própria casa (concebida por Grandjean de Montigny), e 1831 para que sejam definitivamnte estabelecidos seus estatutos, com base no projeto francês de 1824: ela vai se tornar então Academia Imperial de Belas Artes, um nome claramente distinto do projeto da escola de artes e ofícios inicialmente previsto.
Se ainda hoje no Brasil perduram discussões contestando o estatuto de “missão” conferido ao grupo de artistas franceses, ou lamentando a orientação neoclássica que eles deram à arte oficial da era imperial, é incontestável que este período vivido no Brasil vai acabar por impor sua marca sob vários aspectos. Solicitados através de encomendas oficiais da família real, Grandjean de Montigny e Jean-Baptiste Debret, principalmente, trabalharão na construção de edifícios (como o da Bolsa de Comércio, que passou a ser o da Alfândega e, atualmente, sede da Casa França-Brasil) e na cenografia das grande cerimônias oficiais no Rio de Janeiro.
Além disso, muitos destes artistas e atresãos terminaram por criar família no Brasil ou aí deixar descendentes ou discípulos. É o caso, claro, da família Taunay, da qual Adrien, após ter participado como desenhista da equipe comandada por Louis de Freycinet, vai morrer nas águas do Guaporé durante a expedição Langsdorff, em 1828. Seu irmão Félix Émile será, por sua vez, preceptor do futuro D. Pedro II, antes de ser nomeado diretor da Academia brasileira de 1843 a 1851. Ele terá como filho Alfredo d’Escragnolle Taunay — que vai participar da campanha militar contra o Paraguai e se tornará ilustre como escritor: A Retirada de Laguna (1871), Inocência (1872)… — e como neto Afonso d’Escragnolle Taunay, biógrafo de seu bisavô e historiador da “Missão”. Marc Ferrez, o filho de Zéphyrin, vai se destacar como fotógrafo, arte pela qual o imperador demonstrará um grande interesse. Finalmente, o grande aluno de Debret, Manuel de Araújo Porto Alegre, retomou as rédeas da Academia de 1854 a 1857 e deu, seguindo a linha de seus mestres, uma ampla e decisiva contribuição à vida cultural brasileira deste período (ver artigo sobre a revista Nitheroy).