Matrizes Nacionais
Embora tenha se consolidado somente no século XX, o sentimento nacional brasileiro começa a ser construído no século XIX, em parte como uma amálgama das experiências culturais do seu povo, em parte pelas representações construídas pelo Estado imperial.
Essa construção estatal inicia-se com a famosa Missão Artística capitaneada por Joaquim Lebreton. É a partir da visão europeizada de artistas ligados à Napoleão Bonaparte que o Brasil passa a ser visto no exterior e, principalmente, começa a se ver. Assim, a perspectiva da alteridade, do Outro – o francês – ajudaria a construir a imagem do Brasil na Europa. Mais que a percepção européia, cria-se uma relação dialética, onde as visões de dentro e de fora do país se misturam e originam uma terceira imagem. Foi assim com os muitos viajantes que vieram aos trópicos antes e depois de Debret, Taunay e Montigny. Entre eles, Ferdinand Denis, Auguste Saint-Hilaire e Hercule Florence, entre outros, foram alguns dos franceses que passaram por aqui e deixaram suas impressões.
Os modelos franceses não se limitaram a tecer uma visão sobre o Brasil de si mesmo e algumas áreas de conhecimento sofreram influências mais diretas. No ensino acadêmico, por exemplo, vigorou o modelo da polytechnique francesa, que ditou regras para a própria Escola Polytéchnica do Rio de Janeiro e também para outras instituições, como a Escola de Minas de Ouro Preto, dirigida por Claude Henri Gorceix.
O terceiro e último viés da influência francesa nas matrizes nacionais brasileiras, que ora apresentamos, advêm da percepção que os brasileiros construíram a partir da França. Aqui sobressaem a literatura romântica de Victor Hugo, copiada pelos literatos brasileiros; as propostas positivistas de Auguste Comte, reproduzidas pelas campanhas políticas republicanas, que inclusive cantavam a Marseillaise; o modelo arquitetônico haussmaniano, copiado na remodelação urbana do Rio de Janeiro; e as normas sociais e de controle dos impulsos, que inspiraram um modelo de urbanidade, civilidade e moda.