Lógicas Coloniais
Uma saudação lacrimosa de um casal indígena, oferecendo abrigo para um senhor europeu, provavelmente francês, é certamente uma imagem idílica. A representação do contato entre indivíduos de procedência diversa, retirada do relato de Jean de Lery sobre sua experiência na América em 1557, valoriza os novos laços de sociabilidade em construção. Um retrato sem referência a conflitos, ambição e intolerância: palavras que se tornariam cada vez mais comuns para descrever essa longa e complexa história.
Ao abrir esta seção intitulada de “Lógicas Coloniais”, a imagem oferece um contraponto ao restante que será apresentado. A generosidade contrasta com a ganância que permeia os novos horizontes de todos que foram envolvidos neste processo: grupos indígenas e europeus, mairs e perós, tupis e tapuias. As “lógicas” apresentadas ostentam como fio condutor os conflitos decorrentes dos encontros e das descobertas; das novas terras e riquezas a serem conquistadas; e das mudanças mais diversas que reconfiguraram as experiências vividas.
A parte inicial desta seção transita pelas experiências culturais e pelos conflitos territoriais em torno das diversas tentativas de os franceses se estabelecerem na América: Rio de Janeiro, São Luis e Guiana. A fragilidade dos estabelecimentos europeus no Brasil é reforçada pelo “seqüestro” do Rio de Janeiro por corsários franceses no ano de 1711, decorrente da turbulência européia em torno da sucessão espanhola. As mudanças ocorridas no Velho Mundo e seus reflexos no mundo Atlântico encerram esta seção. As novas idéias sobre a legitimidade do poder dos governantes são apresentadas por dois prismas: o primeiro, da Inconfidência Mineira, almejando a refundação do pacto entre os poderes constituídos; e o segundo, da invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas, levando a monarquia portuguesa a se refugiar no Brasil. Um evento que contribuiu significativamente para a história posterior do país.